O essencial e o simples
Quantas vezes você se sentiu deslocada do seu entorno e pensou que a forma com que se expressa não é autêntica porque precisa se enquadrar no mundo?
Desde que me tornei mãe, tenho refletido sobre essa linda e intensa jornada de "volta pra casa”. É assim que consigo descrever hoje o que sinto sobre os últimos 10 anos. E isso tem tudo a ver com o título dessa conversa.
Na infância, eu me interessava pelo sentido da vida e tinha um mundo interno bastante rico. Pensava e sentia com muita lucidez, me lembro até das conversas internas constantes que eu tinha, mas lembro também da ausência de um espaço seguro para expressão genuína de quem eu era.
Isso não foi culpa dos meus pais, nem dos meus professores, muito menos dos meus amigos. Não foi culpa de ninguém que estava ali, simplesmente foi o reflexo de uma época. Essa época pode não ser novidade pra você, e, talvez, você ainda se sinta vivendo nela.
Muitos anos se passaram desde a minha infância e sinto que, durante os primeiros quase 30 anos, minha vida caminhou - assim como a de muitas pessoas - no automático.
Se não há culpados, quem faz isso com a gente?
E se eu te perguntasse se você já reparou em si, no que sente ou pensa, de verdade… O que está debaixo da sua superfície? O que acontece se você desligar o piloto automático da vida?
A "Volta pra casa"
Há quem diga que a minha história não foi bem assim, mas hoje, quando olho pra trás, sem julgamento, percebo que havia uma consciência presente, ainda que seguir o fluxo fosse a regra.
Não sei o que você entende por “automático” nem por “consciência”. Eu descreveria a consciência, num primeiro nível, como “algo que observa as partes”. O automático acontece quando alguma das nossas partes estão no comando e não percebemos. Sabe, quando agimos de alguma forma que nem sabemos de onde vem?
É como se tivéssemos nascido com uma essência simples e integrada, mas ao longo da vida, a partir das nossas relações pouco facilitadoras, mudássemos para dar conta do que está ao nosso redor, para sobreviver e para prosperar.
O que estou querendo dizer é que sentimos medo, e então nos calamos, mudamos, nos adaptamos… nos perdemos.
Agora, começa o caminho “de volta pra casa” que falei no início desse texto.
A maternidade trouxe pra mim um convite à presença, à auto-observação, à consciência, a desacelerar, sair do automático e repensar meu jeito de estar no mundo. Isso acontece com muitas pessoas e em momentos bastante específicos da vida. Foi assim que comecei essa jornada em busca de mim mesma.
Para ser a melhor versão possível de mim para a minha filha, criei um senso de responsabilidade social ampliada, saindo da esfera do “eu” para o “nós”. Quando eu digo melhor, estou falando de um desejo genuíno de ser facilitadora do desenvolvimento dela, para que ela então pudesse ser a melhor versão dela mesma.
Agora tenho dois filhos - e em um processo contínuo e não linear - tenho me cuidado mais, cuidado dos meus sentimentos. Tenho dado mergulhos mais profundos e saído da superfície, me acolhido, me amado e me sentido mais presente e integrada.
Enxerguei e sigo enxergando nesse caminho as partes em mim que nasceram ao longo da vida. Hoje, sinto que posso acolhê-las, uma a uma, fazendo companhia pra elas quando aparecem, sem que me comandem.
Construindo uma essência
O psicólogo Carl Rogers, responsável pela Abordagem Centrada na Pessoa, diz o seguinte: “o paradoxo curioso, é que quando eu me aceito como sou, então eu mudo”. Essa linha da psicologia humanista é a base das minhas relações e do nosso trabalho no De Pessoa Pra Pessoa.
Eu caminhei de “volta pra casa”, de volta pra mim a partir da minha maternidade e, assim, ao encontro verdadeiro da minha essência. Enxerguei e agora percebo que, nesse caminho, me reconectei (e sigo me reconectando) com as partes em mim que nasceram ao longo da vida (e as muitas que ainda virão).
Dessa forma me relaciono comigo e meus filhos com interesse, aceitação e uma boa dose de compreensão e autenticidade. E quando eu não tenho que ser nada que eu não sou, acolho tudo que há em mim. Nesse momento eu me transformo, evoluo e abro espaço para que meus filhos sejam quem eles são.
O essencial é o que é inerente a algo ou alguém e é justamente isso que procuro facilitar em mim e nas minhas relações, ou pelo menos não atrapalhar com as minhas expectativas sobre as coisas. O simples é o que não é composto, múltiplo ou desdobrado em partes, e sim integrado.
Continuo em busca do que é ESSENCIAL E SIMPLES. E você?
Esse texto foi escrito por mim, Brunna Martinato, faz parte da história da Anne, tem tudo a ver com o De Pessoa pra Pessoa e foi lindamente revisado pela Illy.